O SEXO DO FUTURO

[ Este texto foi postado originalmente do SEXO VERBAL quando eu era colunista por lá, mas o blog tal como era na época saiu do ar, resolvi republicar por aqui para quem não teve oportunidade de ler na época.
E uma novidade: tem texto meu no AVS sobre Ejaculação Feminina e Ponto G.  Clique AQUI para ler.]

Vivemos numa sociedade onde ser diferente custa caro, resulta no preconceito e na exclusão. Até quando?

Este tema me fez lembrar da entrevista que a sexóloga Regina Navarro Lins, deu à “Isto é” em 2005, na época do lançamento de seu livro “O Livro de Ouro do Sexo”. Nesta entrevista ela afirma entre outras coisas que o casamento, na forma como conhecemos hoje vai acabar; que a sexualidade da forma como é vivenciada sofrerá radicais mudanças num futuro próximo.
Todas as afirmações da autora são baseadas em 2 anos de pesquisas, estudos e alguns “sinais da sociedade”.

Vamos ver algumas das previsões mais polêmicas de Regina sobre sexo e relacionamento:

  • A exclusividade sexual vai acabar. Amar alguém e não ter mais tesão por ninguém é uma idéia FALSA. É um conceito trazido pelos valores do amor romântico. Já percebe-se claramente nos padrões de relacionamento atual, a falência do amor romântico, as pessoas estão mais individualistas, o parceiro não é mais escolhido cegamente, guiado apenas pela paixão, hoje outros valores entram em cena, afinidades culturais, econômicas e sexuais; estamos mais objetivos e realistas. Com o fim do romantismo viria o fim da exclusividade e as pessoas passariam a aceitar com naturalidade o desejo sexual por outras pessoas. A médio prazo, então, Regina prevê que será comum termos vários parceiros num mesmo tempo, ou seja, será bem possível que tenhamos um com quem o sexo é mais gostoso, outro com quem viajar, fazer programas culturais é mais prazeroso, outro com quem ter filhos é um assunto vivenciado mais seriamente, e assim por diante.
  • Sobre o casamento, ela diz, que é o local onde se pratica MENOS sexo e ainda arrisca afirmar que a maioria das pessoas pratica pouco e com baixa qualidade. Com isso a tendência é diminuir a prática com o modelo conhecido de hoje – duas pessoas vivendo sob o mesmo teto, regido pela exclusividade e cercado de cobranças. A prática de swing e troca de casais está se tornando corriqueira, são muitos os casais que já frequentam clubes específicos; mas segundo a autora, a tendência mais forte e que predominará na evolução do comportamento sexual, é o sexo a tres. A afirmação é baseada numa pesquisa onde a pergunta “Você gostaria de fazer sexo a tres?” foi respondida por mais de 2000 pessoas e 80% delas afirmaram “Sim”. Regina vê este resultado como uma tendência que se tornará realidade num futuro próximo, já que o sexo a tres é uma prática antiga, onde o usual são 2 mulheres e um homem, devido à carga de valores patriarcais que o homem carrega, não admitindo estar com outro homem numa cama. Entretanto, para ela, com as transformações que vivenciamos no comportamento sexual isto tende a diminuir.
  • E com a questão do sexo a tres viria um outro fenômeno a reboque: caminhamos para a androginia, mas a Androginia no sentido da pessoa ser mais inteira, ter dentro dela a HARMONIA entre feminino e masculino, sem necessidade de mutilar aspectos importantes de sua personalidade. Para a autora, o conceito envolve a capacidade de dissolver a divisão entre o que seria ser homem ou ser mulher. As pessoas são o que são e gostaríamos delas pelas suas características de personalidade, pelo jeito de ser, pelo cheiro, pelo gosto e não por ser deste ou daquele gênero. Ela exemplifica afirmando que não existe mais diferenciação entre o que interessa somente ao homem ou só a mulher, existe uma universalização de interesses e não apenas no campo sexual.

Em síntese são estas as previsões de Regina Navarro (para ler a entrevista na íntegra clique aqui). São totalmente libertárias e revolucionárias, de certa forma viáveis a LONGO prazo; e mesmo sendo um movimento complicado devido a diversos condicionamentos e valores (ciúmes e fidelidade por exemplo), acredito que uma parcela da sociedade tenha potencial para evoluir neste sentido, especialmente a relacionada às opções de direcionamento sexual. Além de sinalizar o rompimento de preconceitos em relação às minorias rotulados como fora do padrão.
Lógico que muitas pessoas continuarão preferindo o casamento tradicional, o sexo tradicional e as visões mais conservadoras de sexualidade. Entretanto, os mais observadores vem sentindo que uma mudança está sendo alinhavada lentamente no âmago da sociedade, e isto ao meu ver é bastante visível e perfeitamente possível (sem generalizações evidentemente).
E vocês, o que acham?

Comments
18 Responses to “O SEXO DO FUTURO”
  1. Bia Lima disse:

    Penso que, a médio (e longo) prazo, algumas das tendências descritas vão se confirmar. Não sou pelo fim do casamento convencional, mas conheço poucos que realmente funcionam. Ou minhas amigas e mulheres que nem conheço, mas encontro no dia a dia,não estariam reclamando tanto de sua vida sexual monótona e seus parceiros sem criatividade. Que venham as novidades !!!

  2. Bia Almeida disse:

    Não sei exatamente de quando é seu texto mas creio que seja de 2005-2006 e observe, as previsões de Regina já estão acontecendo firmemente:

    sexo a três e swing tornou-se comum, o romantismo realmente naufragou, mulheres procuram só sexo em alguns caras e eles se magoam porque estavam apaixonados (a tal androginia), casais são mais amigos que transam do que qualquer coisa… Sinto que seja o início disso tudo a que ela se refere, e que não vai demorar muito pra que essas mudanças aconteçam. Esse longo prazo vai levar, vamos lá, 10 anos talvez. Não é muito. Isso porque o mundo está mudando muito rápido e com isso nós todos.

  3. Deborah disse:

    Bia

    Ainda não tinha visto essa entrevista. Adorei. Concordo plenamente com ela. As coisas estão mudando, e as pessoas insistem em não ver.

    Uns 15 dias atrás postei um artigo sobre fidelidade, e foi uma polêmica só. Tudo porque eu afirmava que o ser humano não era monogâmico por natureza, e sim (quando era) por convenções, padrões sociais, religiosos, familiares. E diferenciava fidelidade de lealdade.

    Ah… pra que. rsss Mil comentários inflamados em defesa da fidelidade absoluta. Que para mim, realmente não importa. Agora, a lealdade importa sim. E muito.

    Beijos,
    Deb.

  4. Felídeo disse:

    Concordo e, desde o artigo até hoje, muita coisa já evoluiu nesse sentido. O swing, por aquilo que vou me apercebendo, ainda muito cru, encontra-se na fase da aventura mas, já muito mais aceite pela sociedade no entanto, acho que o swing tem os dias contados enquanto grupal (casas de swing).

    Acho, como diz a autora, que homens e mulheres se preparam começar a viver a vida erótica / romântica em dois campos diferentes embora, possam coincidir. O Poliamor irá ser uma forma de estar mais visível entre os envolvidos porque, invisível já existe muito mas, ainda muito confuso mesmo para quem se diz adepto desta postura; a confirmar a questão da Deb. FIDELIDADE e LEALDADE.

  5. Juli disse:

    De fato é uma hipocrisia o q vivemos no casamento, ñ deixamos de sentir atraçao por outros pq estamos com alguem, mas o casamento é uma escolha e sendo a sua, o exercicio do respeito e fidelidade devem ser constantes, mesmo q isso signifique uma relaçao morna infelizmente. As pessoas ñ sao animais irracionais e ate mesmo entre bichos, existe caso de monogamia. O ser humano existe para viver trepando sempre q tiver vontade, na hora e lugar q seja? Qnt a relacionamentos entre o mesmo sexo serem considerados normais faço uma pergunta. De uma relaçao de mesmo sexo é possivel nascer outro ser humano? Isso ja é um grande sinal de q isso ñ é normal, muito menos natural. Dizer q uma pessoa é homem e mulher ao mesmo tempo e q a criaçao mutila esse aspecto é um pouco demais. Sentir atraçao pelo mesmo sexo, na minha opiniao, é um desvio de comportamento, seja causado por educaçao ou ter nascido assim, mas natural, normal ñ é. Se for isso q a sociedade procura, plastificar e banalizar ainda mais as relaçoes, estamos no caminho certo caso sigam o comportamento encontrado na pesquisa acima.

  6. Ricardo disse:

    Parece que a autora de um comentário não entendeu muito bem o contidom no texto. O texto comenta uma tendência de comprotamento social, sem entrar no mérito de defender ou criticar o as pessoas que são adeptos dessa nova forma de relacionamento. Esse novo comportamento existe. Isso é fato! Se isso é louvável ou reprovável não se discutiu. Como toda a mudança vista no seio de uma sociedade, em geral conservadora, em primeiro lugar vê-se a negação, depois vem a ridicularização e por último a aceitação (isso ocorreu com o movimento GLS). Eu sou casado e concordaria se minha esposa, que amo muito, me falasse que tem interesse em ter um relacionamento fora do casamento…

  7. zeze disse:

    Olá Urban

    Tudo bem? espero que sim, por vejo tudo em cima 🙂

    Beijoka

  8. Noh disse:

    Gosto muito dos textos, livros e comentários da Regina Navarro, acredito nessa mudança de comportamento, vejo por mim, vejo como meu olhar é completamente diferente das minhas gerações anteriores, acredito que a liberdade e o auto conhecimento faz com que nos tornemos seres mais completos, inteiros e isso tras uma amplitude de relacionamentos e eu fico cada vez mais feliz por isso.

    Beijos

  9. Olá. Adorei o texto. Parabéns.

  10. Urban é bom falar contigo de novo. Estou retomendo aos poucos o Pilórdia que andava meio encostado (tempo….) e gostaria de postar esse artigo seu, concorda? Bjs, sempre sei de noticias suas pelo nosso amigo comum.

  11. Carmen F. disse:

    U-r-b-a-n-! Hoje mesmo citei você no PD. Saí com um “Jesus, me abane”. Fazia tempo que eu não vinha aqui. Você continua ótima.

  12. sex shop disse:

    Não vejo como futuro… tudo isso… vejo como escolhas menos sofridas de preconceitos… rs

  13. Muito interessante. concordo com todos os comentários, cada um trouxe uma visão diferente do texto, de forte efeito sociológico, Realmente as coisas estão mudando, embora a sociedade brasileira, seja conservadora e hipócrita. Segundo a sociedade é mais cômodo trair. Parabéns pelo blog e pelos textos

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